Faiança Portuguesa sec.XVIII

Rita Roque • 8 de novembro de 2021

Faiança Portuguesa sec.XVIII

Um prato azul e branco com um desenho floral

Faiança Portuguesa

Este lindo prato em faiança que chegou ao Atelier Rita Roque, que se julga ser do sec.XVIII, foi encontrado nas margens do rio Tejo em Santarém.

Nas minhas pesquisas encontrei este texto que vos deixo aqui para que possam desfrutar da sua leitura, mas que me deixou dúvidas na datação deste exemplar, se por vezes parece do sec.XVIII, após a leitura destes textos fico com a impressão que poderá ser do sec.XVII. Vou continuar nas minhas pesquisas para poder ter mais elementos de avaliação da sua data. Seja como for acho-o lindo e sinto-me muito responsável e consciente do artefacto que tenho comigo. 

 

 ...”Período III: 1610–1635

 É o período da consolidação da produção, ou seja, a época em que surgem peças de elevada qualidade decorativa e grandes dimensões e cujo valor devia reservá-las às elites nacionais e à exportação. É o período “áureo” da faiança portuguesa que Reynaldo dos Santos acreditou ser algo posterior. As formas predominantes continuam a ser os pratos e taças, mas surgem algumas garrafas e jarros de grandes proporções, mais frequentes nos contextos estrangeiros que nos nacionais. Estilisticamente é o momento em que mais fielmente se copiam os modelos orientais. O centro dos pratos apresenta diversas paisagens bucólicas chinesas com a representação de animais e indivíduos. As abas dividem-se em cartelas, surgindo os primeiros aranhões inspirados nos rolos de papel, folhas de artemísia, leques e cabaças, que imitam com enorme rigor. A par destes elementos, figuram também, dentro das cartelas, flores, como os crisântemos, frutos, tais como pêssegos e romãs, e zoomorfos, maioritariamente aves. As decorações de influência europeia que surgiram no período anterior continuam a ser recorrentes, emergindo, em paralelo, uma grande afluência de brasões nobiliárquicos, o que, mais uma vez, comprova que eram peças destinadas ao consumo das elites. É nesta fase que a decoração começa a misturar diversas influências. Reconhecem-se nos contextos arqueológicos nacionais, objetos reservados às camadas sociais mais abastadas, sendo recuperados, essencialmente, em palácios, casas abastadas, conventos e mosteiros.

 

Período IV: 1635–1660 

É a época da explosão criativa da Faiança Portuguesa, mas, de igual modo, da perda de parte do seu requinte decorativo. A explicação deste fenómeno passa pela “democratização do seu consumo”. Esta expansão deve ser vista à luz da Fig. 5 – Taça datada de 1621 da colecção do Museu Nacional Soares dos Reis (seg. Santos, 1960). Revista Portuguesa de Arqueologia - volume 16 | 2013 | pp. 351–367 Faiança  portuguesa : datação e evolução crono - estilística 358 lógica mercantilista que tinha invadido a Europa desde inícios do século XVII. Com a ampliação do mundo comercial, mudou-se a atitude de consumo das sociedades europeias e, naturalmente, da portuguesa. Agora também as camadas tradicionalmente mais baixas, enriquecidas pelo comércio ultramarino, sentem que podem consumir objetos que, anteriormente, estavam apenas destinados às elites, também elas podem consumir os símbolos do status social. Surgem, assim, as peças destinadas ao consumo generalizado. É neste período que os três centros produtores, Lisboa, Coimbra e Vila Nova, abastecem intensamente o país, as colónias e muitos dos seus parceiros comerciais. Os contextos arqueológicos referentes a estas cronologias oferecem elevadas quantidades deste material, superando, por vezes, a louça comum. No entanto, o crescente consumo e demanda levaram a um decréscimo da qualidade, essencialmente no que respeita às pastas e esmaltes. Também a delicadeza decorativa se perde, mas por outro lado, e tentando responder ao crescente consumo, aumenta o reportório iconográfico, com o aparecimento de novos elementos decorativos. É nesta fase que surgem as peças com riscas verticais e semi-círculos concêntricos como se identificou no sítio Pentagoet I, ocupado entre 1635 e 1654, que ofereceu um destes pratos (Pendery, 1999, p. 73). Esta decoração vai ser utilizada durante muitos anos, continuando pelo período V. As decorações vegetalistas, tais como as grandes pétalas e folhas, generalizam-se e são comuns a quase todos os sítios arqueológicos, tanto nacionais como estrangeiros, tornando-se das ornamentações mais comuns. Surgem, ainda que timidamente, as primeiras representações do que ficou conhecido como “rendas”, mas que mais não são que elementos inspirados nas “penas de pavão”, dadas a conhecer na Europa pelas produções italianas. Acreditamos que este motivo tenha surgido por volta de 1645, ainda que o seu boom tenha ocorrido a partir de 1650 e durando, sensivelmente, até 1680. Em Jamestown, Virgínia, prato com esta decoração e coração alado ao centro, foi exumado em contexto 1650–1665 (Wilcoxen, 1999). Surgem ainda alguns exemplos da família das espirais, embora em menor quantidade, visto que a produção tende a diminuir a partir de 1640. A razão pode prender-se com o fim do domínio filipino e com o facto de aquela decoração fazer lembrar as produções espanholas e atentar contra o espírito patriótico da Restauração. A decoração, maioritariamente de inspiração oriental, já não reproduz fielmente o estilo exótico, como observável no período anterior, mas estiliza-se. Desta forma, a aba, ainda dividida em cartelas, apresenta crisântemos muito estilizados, longe do pormenor decorativo de outrora, alternando com aranhões que já não imitam diversos símbolos chineses, mas passam a apresentar, quase em exclusivo, uma reprodução das folhas de artemísia, tornando-se os rolos de papel quase irreconhecíveis. Prato guardado no museu de Hamburgo, datado de 1637, mostra a estilização da decoração de influência oriental (Keil, 1938), semelhante ao que foi recuperado em diversos arqueossítios londrinos com cronologias entre 1640 e 1660, tais como Lambeth Street ou Magdalen Street. Se estas decorações se uniformizam e perdem pormenor, por um lado, por outro a decoração de influência oriental vai conhecer um novo estilo, denominado por “desenho miúdo” que permitirá a continuação do requinte decorativo de certas peças. Recorrendo a pincel muito fino, o pintor delimitava cenas orientais, onde surgem diversas representações antropomórficas e zoomórficas, que preenchia com tons de azul e, mais raramente, amarelo. O seu rigor e qualidade permitem inferir que seriam peças destinadas a camada social mais abastada, possivelmente criando alternativa às decorações existentes, agora de fácil acesso a todos. A maioria dessas cenas era delimitada a violeta de manganês. Esta nova cor é, de facto, o grande marco deste período, sensivelmente a partir de finais da década de quarenta. De início é utilizado em quantidades diminutas, no limite do desenho miúdo, só se estabelecendo já no período seguinte. O centro dos pratos tende cada vez menos a apresentar imagens de influência oriental, dedicando-se a representações europeias, como figurações mitológicas de Vénus e Fortunas correndo nuas, cobrindo-se apenas por véu. Surgem, de igual maneira, diversas representações antropomórficas de aristocratas, nos seus melhores trajes, em cenas quotidianas e lúdicas tais como caçadas, jogos e música. Aparecem, também, diversas cenas do que têm comummente sido designadas como “temas portugueses”. Readquirindo a sua independência em 1640, o país encontrava-se sob elevada tensão bélica com os espanhóis, pelo que não é incomum a representação de soldados armados e cenas de batalha. Prato já estudado por João Pedro Monteiro e parte do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga insere-se neste período, representando um fidalgo com um bastão na mão, que o autor identifica com representação de D. João IV, monarca da Restauração. Aquela figura, claramente portuguesa, apresenta-se rodeada por aba com decoração de influência oriental, característica deste período IV (Monteiro, 2002). Propagandeando o poder português, não são incomuns as representações das armas reais, objetos destinados à nobreza nacional, mas igualmente exportados, reafirmando a retoma do reino por nobres portugueses.”...

in Faiança Portuguesa:

Datação e evolução crono-estilística

Tânia Manuel Casimiro

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/publicacoes/rpa/rpa16/19_351-367.pdf

 

 

 

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